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Brega & Chique

Este é um blogue de uma mulher portuguesa com todas as (f)utilidades inerentes a essa condição...

A igreja apocalíptica dos Mass Media

Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, que ditam o fim do mundo bíblico estão aí: guerra, fome, morte e peste. Para muitos, o fim do mundo está próximo, agora com o aparecimento da Covid... Ora, se pensarmos bem, sempre tivemos guerras, fome, morte e peste. No caso deste último, ficou célebre a peste bubónica, conhecida pela Pesta Negra, no século XIV, matando entre 75 a 200 milhões de pessoas e a Peste pneumónica (vírus influenza), vulgo Peste Espanhola, já no século XX, matando entre os 17 e os 100 milhões, cuja segunda vaga veio em 2009 com o H1N1. Em suma, o mundo tem vindo a acabar-se desde a existência de humanos, pelo menos, partindo do princípio de que os animais não fazem guerras...

O que também tem vindo a acabar-se é a dignidade jornalística. No afã de conseguirem destacar-se nos rankings de mais visualizações ou de audiências (através da Internet ou pelos meios mais tradicionais), eis que emergem títulos chamativos e inflamados, sem qualquer sustentação científica e com conteúdos nada abonatórios da verdade e da isenção jornalística, que levam qualquer pessoa menos informada e/ ou em estado emotivo sensível a quase cortar os pulsos, uma vez que o mundo vai acabar de qualquer forma...

A última parvoíce que vi foi hoje. Qualquer coisa como "caso confirmado de peste negra na China; o mundo em alerta; Peste Negra regressa". WTF?! Hellooooo, primeiro, a peste bubónica nunca foi extinta, à semelhança de outras; segundo, há cura conhecida e é de fácil controlo. Quantos casos virais existem pelo mundo fora todos os dias...? Só agora é que se deram conta...? 

E os comentários do "Zé Povinho", por um lado, ignorante e, por outro, stressado e de juízo toldado com o que vivemos, não dececionam (o que me custa escrever esta palavra sem o p...). Vejamos as sapientes deliberações: fechar/ isolar a China (onde é o botão...?); é o planeta que está a acabar connosco (não era ao contrário...?); que raio fazem na China que todas as doenças perigosas aparecem lá (não sei porque não se chamou gripe chinesa à espanhola...); os chineses devem evitar apanhar ratos da rua e levá-los para casa (atire a primeira pedra todo aquele que tiver um hamster em casa); e o melhor: "é acelerar as ideias para povoar Marte"!!! (vou já fazer a minha mala para apanhar a primeira nave a sair...).

Mas a culpa não é destas pessoas, a culpa é dos energúmenos que escrevem e que publicam estas coisas e que espalham o pânico e o caos quando o que se precisa é o contrário. Não me interpretem mal, eu também estou preocupada com o Covid, sim, porque para este não há cura nem vacina, mas não vou surtar por causa disso. Cumpro todas as orientações que me são dadas pelas pessoas mais habilitadas para tal e, se toda a gente o fizesse, não estaríamos assim.

Enoja-me que, no momento em que mais precisamos de informação fidedigna, seja precisamente a comunicação social a causadora destes surtos psicóticos. Tenham vergonha!

(imagem de: https://1.bp.blogspot.com/-ux7OKq9Pe2U/TWVJ1c7We7I/AAAAAAAAFpY/y5fW02kD69k/s400/cavaleiros_do_apocalipse.jpg)

Os (des)arrumadores de carros

Arrumadores de carros pedem legalização da actividade em Viseu

Se vais já atrasada para um compromisso qualquer, num sítio em que é difícil estacionar e vês lá ao fundo uma mão de um arrumador de carros a indicar-te um lugar, agradeces e (porque não?) até contribuis com alguma coisa. Afinal de contas, o homem prestou-te um serviço que, quanto mais não seja, te poupou tempo. Certo. A mim não me custa nada dar "a moedinha" quando assim sucede. Outra coisa foi o que se passou recentemente comigo...

Depois de andar quase um quarto de hora à procura de estacionamento, ter desistido e ter encostado para que alguém viesse e tirasse o carro, depois de conseguir, eis que me surge lá do fundo a correr o "artista". Saio do carro, sem sequer perceber o que ele ali fazia quando ele, entre dentes, me pede "a contribuiçãozinha". Respondo-lhe que fui eu que arranjei o lugar, mas que quando voltar pode ser que dê qualquer coisa, viro costas e...

... depois de andar uns metros, ouço-o dizer qualquer coisa do género "se o carro ainda cá estiver" ou algo assim. Passei-me. Literalmente. Virei-me a ele de tal forma danada que ele recuava e eu avançava. Mas que c...? Eu passo mais de um quarto de hora à procura de lugar, arranjo eu o estacionamento e vem ele exigir-me dinheiro?! À causa do quê? É o dono do parque? Prestou-me algum serviço? Que obrigação tenho eu de dar? Ou até de ter para dar?! E, ainda por cima, me ameaça?! Quem?!!!! 

Se ele não recuasse, no mínimo, tinha levado uma malada. Ameacei chamar a polícia e fazer queixa. Só mais tarde me passou pela cabeça usar as novas tecnologias para captar a imagem de quem me ameaçava. Ele não estava à espera da minha reação e ficou com medo. Uns metros à frente, por acaso, encontrei um carro da polícia e fiz queixa. Disseram que iam tratar do assunto e devem ter ido, porque quando cheguei o carro estava como o deixei e o "melro" tinha sumido.

Não sei qual é a ideia desta gente. Acha que temos obrigação de os sustentar...? E aos seus vícios, o que é pior...? Nem pensar! Dou, sempre e quando considere que me foi prestado um serviço. De resto, venham-me cá com ameaças e pode ser que "a Páscoa lhes saia ao sábado".

 

Foto: http://www.jornalviarapida.com/regiao/arrumadores-de-carros-pedem-legalizacao-da-actividade-em-viseu

O "botellón" tuga das gerações mais jovens

O "botellón" é uma prática juvenil importada de Espanha. A palavra vem de "botella" (garrafa) e significa em si, uma garrafa maior que o normal, ou seja, uma garrafa de grandes dimensões, por estar no grau aumentativo.

Em termos comportamentais, o "botellón" é uma prática de jovens que consiste em adquirir bebidas alcoólicas em locais que as vendem a baixo preço (ou até trazê-las de casa) em grandes garrafas e juntarem-se em locais onde as consomem ouvindo música e confratenizando, muitas vezes acabando por provocar distúrbios em plenos espaços públicos. A grande (e rápida) ingestão destas bebidas aliada à baixa fase etária dos jovens leva a comportamentos libertinos com graves consequências para os mesmos.

O problema é tão grave que já estão a ser tomadas medidas em Espanha para controlar esta prática. Num estudo espanhol constatou-se que 64% de jovens entre os 14 e os 18 anos consideram que é normal a ingestão de álcool.

Em Portugal, a venda de álcool é proibida a menores de 18 anos, mas há sempre maneira de contornar as coisas e mesmo em locais como bares e discotecas a verdade é que vejo sempre ser servido álcool a jovens que claramente não têm 18 anos, sem lhes ser pedida qualquer tipo de identificação.

Se estou a escrever sobre isto é porque testemunhei ainda há pouco tempo um exemplo desta prática degradante. Não que eu seja uma puritana ou que me tivesse trancado em casa com essas idades. Mas era diferente. Havia limites, coisa que esta geração não tem.

Numa ida a uma discoteca, o panorama à entrada era o seguinte: grande confusão na rua pública com magotes de jovens até no meio da estrada com a sua garrafa a emborcar. Táxis traziam continuamente jovens nas mesmas condições. No parque de estacionamento desse local, o mesmo cenário com os carros abertos com música em altos berros. Como cá fora não existem (obviamente) casas de banho, fizeram do muro de uma casa e dos pés de milho que lhe era próximos um urinol, com o consequente fedor que daí exalava. Tropeçavam, caíam e alguns já vomitavam.

À entrada da discoteca iam bebendo até à entrada, pousando no chão, antes de entrarem, as respetivas garrafas, que se acumulavam, à vista dos seguranças do local. O cheiro a "ganza" já se sentia na fila da entrada e continuou a sentir-se esporadicamente dentro da discoteca.

Lá dentro, a confusão reinava. Nunca percebi porque é que esta nova geração só sabe falar aos gritos. Também não sabe caminhar devagar no meio da multidão nem respeitar filas. "Com licença" e "desculpe" também não está no seu dicionário. Por várias vezes, fui abarroada ao ponto de quase me levarem à frente.

A casa de banho das mulheres parecia um cenário dantesco. Muito drama, gritos e choros, vómitos, copos vazios espalhados por todos os lados e até meias vi no lavatório. 

No fim da noite, à saída, vários sentados no chão ou mesmo deitados. 

Tive vontade de distribuir umas boas bofetadas a apreciar determinadas cenas, mas depois lembrei-me que são miúdos... E eu não era pai nem mãe de nenhum deles. Isso sim, era importante saber onde andariam os seus "papás" e a educação que não lhes deram. Os pais estão a demitir-se das suas funções e o resultado é este. Aliás, nota-se bem pelo que se passa nas escolas, aonde acorrem para reclamar de tudo e pouco para assumirem as suas responsabilidades de pais. Passou-se do 8 ao 80. Dá medo pensar que esta gente é o nosso futuro...

 

 

(imagem em https://elpais.com/elpais/2018/04/25/tentaciones/1524656241_047244.html)