Diário de uma quarentona em quarentena
Uma vez que estou confinada ao espaço da minha casa, resolvi retomar o blog. Ao menos, que sirva para alguma coisa de positivo... Deixo-vos o diário de uma dona-de-casa-desesperada-e-obrigada-a-sê-lo. (é ficção, mas podia ser realidade).
Dia 1
Vamos ficar em quarentena em casa. Embora não ache graça a estar presa num apartamento, vou encarar o lado positivo. Vou poder gerir o meu tempo entre o teletrabalho e outras coisas que há muito queria fazer e não tinha tempo. Posso reorganizar a casa, fazer exercício, cuidar de mim e dormir! Vou dormir muito!!!! Vou já elaborar uma lista das coisas a fazer. Estou entusiasmada.
Dia 2
Afinal, não consegui dormir até tarde. É o hábito de acordar sempre à mesma hora. Mas não faz mal, assim, aproveitei para fazer mais coisas. Trabalhei o que tinha a trabalhar e tratei de toda a roupa que tinha acumulada. Além do mais, nem precisei de me vestir decentemente ou de me maquilhar e ainda ganhei mais tempo. Go, girl!
Dia 3
Voltei a acordar cedo. Tinha a caixa de entrada cheia de e-mails para responder. Ufa! No resto do tempo, arrumei e limpei toda a casa e, ao final do dia, ainda me consolei de ver Netflix com a minha gata. Isto, promete! Vou, finalmente, conseguir ver todas as séries que nunca vi.
Dia 4
Está um sol resplandescente lá fora e eu aqui fechada em casa, mas tem de ser. Ainda bem que me levantei cedo, porque, agora, além dos e-mails para responder, também tenho umas reuniões em videoconferência. A meio da segunda reunião, a gata veio miar para a minha beira. Está a ficar um bocado chata. O resto do tempo, ocupei-o a reorganizar os meus armários por dentro. Já queria fazer isto há tanto tempo...
Dia 5
Acordo e vejo 500 mil e-mails na minha caixa de entrada. What?! Isto já é um abuso! Enfim... Sinto falta de ir tomar um café a qualquer lado com uma amiga, mas não pode ser. Falo pelo messenger. lol. Até é engraçado! Ela também estava de pijama, como eu. Como já arrumei tudo o que tinha a arrumar, vegetei no sofá a ver séries. Iupi!
Dia 6
Acordei com os altifalantes da polícia a mandar as pessoas ficarem em casa. Hoje é dia de fazer ginástica e ainda bem, porque enfardei que nem uma louca a ver a Netflix um pacote inteiro de bolachas e outro de "cheetos". A continuar assim, não sei onde irei parar. Por outro lado, já enjoei de ver séries. Dia fitness, portanto. Os e-mails continuam a chegar em catadupa. Acabo por trabalhar mais horas que o normal.
Dia 7
Acordo com dores no corpo. Tão cedo não posso fazer exercício, o que é uma lástima, tendo em conta que já nem consigo controlar o que como. Mas, o que se há de fazer? Já me incomoda a gata andar sempre em cima de mim e ela, por sua vez, já deve estar farta de me ouvir. Precisava mesmo de sair. Não podendo ser, aceito convites de amizade de tipos duvidosos que me enviam fotos ainda mais duvidosas. C'est la vie...
Dia 8
Acordo com a música pimba do vizinho. Não há paciência! Em contrapartida, respondo-lhe com AC/DC em altos berros, para ver o que é bom! Olho para o espelho e assusto-me. Pelos a crescer, restos de verniz nas unhas e cabelo desgrenhado. Mas para que me hei de ir arranjar se não saio de casa? Já não suporto o som dos e-mails a cair. Só me apetece responder-lhes com o dedo do meio. A minha gata olha-me com ar de assustada e afasta-se.
Dia 9
Hoje fui à rua! Finalmente!!! Fui ao contentor do lixo. E é só... Já dormi melhor, porque me empanturrei de comprimidos ontem à noite. Aceitei a amizade do meu ex e falei com ele. Começo a preocupar-me. Resolvo dedicar-me à cozinha e confeciono três sobremesas diferentes. Embucho boa parte delas. Preocupo-me com a dieta quando tudo isto passar.
Dia 10
O meu stock de pijamas está a acabar. O que vale é que ainda tenho fatos de treino, embora não tenha pachorra para fazer exercício. Já que é sábado à noite, vou fazer um gim para relaxar. E, como é fim de semana, nem respondi a e-mails. Já não tenho paciência para séries, nem filmes, nem livros, nem para aturar gente mais deprimida que eu. Quero que tudo se f...
Dia 11
Acordei com uma ressaca descomunal. Os gins multiplicaram-se ontem à noite e acabei a dançar na varanda em lingerie, com música em altos berros. Ainda bem que não posso sair de casa! Espero que a quarentena se prolongue, porque creio que fiz promessas amorosas ao meu vizinho da frente. Estou tão mal, que, das duas, uma: ou tomo comprimidos para dormir e passo os dias e as noites assim, ou dou cabo do stock de álcool cá de casa.
Dia 12
Al menos o bichhooo du Corona num gosta di álcooli...