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Brega & Chique

Este é um blogue de uma mulher portuguesa com todas as (f)utilidades inerentes a essa condição...

Reeditando "antiques": «Romance»

 Decidi reeditar com nova cara alguns dos meus textos mais antigos que não conhecem. A maioria continua atual... Aqui fica o primeiro (retocado), que na época intitulei de «Romance».

 

Será que o romance morreu em pleno século XXI? Dois mil e dezasseis anos depois de Cristo, fora as incontáveis eras pré-nazareno, com as histórias dos amores dos próprios deuses pagãos (como Eurídice e Orpheu), Helena de Tróia e o príncipe Páris (versão VIP), Adão e Eva (versão bíblica), Ulisses e Penélope (versão ficcionada), de Cleópatra e Júlio César (e Marco António… - versão megalómana), Alexandre Magno e Hefastion (versão gay) e Maria e José (versão popular) …e isto tudo só antes d’ Ele… depois, é melhor nem começar. Ou é?

Era suposto este texto ser uma introdução para um tema muito mais prático e atual (de que não me esquecerei), mas agora que comecei, está a dar-me gozo (e pasme-se: nostalgia!) falar nestes assuntos. E porque não aprofundá-los? Vale a pena falar nisto, para ver se se acordam as alminhas que por este mundo circulam, cada vez mais mesquinhas, frias e vazias.

Ser romântico hoje em dia é praticamente um crime! É uma fraqueza de espírito (sim, porque do carnal não abrem eles e elas mão…), uma contranatura, um obstáculo, uma prisão, uma pieguice, uma burrice, uma perca de tempo, um entrave e, sobretudo, não é fashion. Ora, porra! Tirar o romantismo a uma relação é como saborear um rebuçado com o papel. Cambada de covardes!

Pois, meus amigos, este artigo vai ser um elogio a esses célebres casais de românticos que, pouco a pouco, se vão evaporando da nossa cultura de fast-foda, ups, fast-food.

E vou começar por aqueles que já referi. Orpheu, descendente da musa Calíope, apaixonou-se pela musa Eurídice. Acontece que a sua amada morreu, a fugir de Aristeu (outro pretendente). A sua dor foi tão forte e o seu canto tão comovente, que os deuses permitiram a Orpheu que a fosse recuperar aos infernos, com a condição única de não poder olhar para trás (e para ela) até sair dos infernos. Acontece que, nessa viagem de regresso aos vivos, ciumento com a incerteza do amor de Eurídice, olho-a para dissipar as suas dúvidas e perdeu-a para sempre.

Helena era esposa do rei Menelau e foi raptada pelo príncipe Páris e levada para Tróia. Por causa deste amor, o príncipe desencadeou a guerra do famoso cavalo de Tróia.

Adão e Eva, toda a gente conhece, certo? Os primeiros humanos criados por Deus. Graças à sedução de Eva, Adão come o fruto da árvore do “conhecimento do bem e do mal” e, portanto, estamos todos condenados, às custas do amor deles.

Ulisses casou-se com Penélope após não o ter conseguido fazer com a Helena de quem já falei (estão a ver como estas coisas são…?). Depois de ter participado na tal guerra de Tróia, a viagem de regresso a casa durou 20 anos (quase como aqueles que vão comprar tabaco…). Passou por muitas aventuras e desventuras nesses anos e resistiu até a Calipse (apesar de ter sido seu amante, mas isto são pormenores…). O interessante desta história é que a sua mulher, entretanto persuadida pelo seu próprio pai a casar novamente, conseguiu esquivar-se fazendo uma colcha que costurava de dia e desfazia de noite, pois só quando esse trabalho estivesse terminado se sujeitaria a novo matrimónio. E assim foi que se conseguiu manter fiel ao seu amado esposo.

Cleópatra… bem… esta consolou-se e não vou aos pormenores sórdidos, tipo, que naquela altura, no Egipto os irmãos se casavam… Bem, ela teve o melhor de Roma, que é o mesmo que dizer, nessa época, o melhor do mundo: Júlio César, que se apaixonou por ela quando esta se desenrolou dum tapete na sua frente e também após a morte deste, Marco António. Após os planos megalómanos do casal terem ido por água abaixo, suicidaram-se os dois. Trágico, mas bonito.

Segundo consta, o grande conquistador macedónio (Alexandre Magno) era… bissexual. E dizem as más línguas que o seu grande amor foi Hefastion, seu companheiro de armas. Pois é… e olhem que ele não era nada parvo para conquistar tudo o que conseguiu…

E o que dizer de José e Maria? O amor simples e forte de tal maneira que José permitiu e apoiou a gravidez da mulher do divino? Qualquer macho, não permitiria que a sua esposa tivesse um filho de outro fosse ele Deus ou outra coisa qualquer! Amor maior que este não deve haver mesmo!

Pronto, vamos para o d. C. , antes que me censure o Diácono… Que tal Pedro e Inês? O amor de um príncipe pela dama de companhia da esposa, que foi brutalmente assassinada pelos algozes do rei, nada satisfeito com a ideia da coroa portuguesa poder ir parar a Castela. (Mais uma oportunidade perdida. Se o raio do Afonso estivesse quietinho, talvez fôssemos todos espanhóis agora…). Pois o Pedrito não ficou nada contente com o assunto e matou brutalmente os assassinos da amada e até consta que depois de morte a coroou rainha (nem assim serviu para sermos espanhóis…).

Não poderia deixar de falar de Romeu e Julieta. Apesar das suas famílias serem rivais, os jovens apaixonam-se. Acontece que, naquela altura ainda não havia os C.S.I. e devido a pensar que Julieta estava morta, Romeu bebe um frasco de veneno. Quando este começa a fazer efeito, a amada desperta do seu sono e assiste à sua morte. Incapaz de resistir à dor, também ela se suicida com uma espada. Tudo morto. Assim é que é... O mais interessante depois de tudo isto é que os tinhosos dos familiares, depois desta confusão toda, fazem as pazes. Ainda bem que é ficção do Shakespeare, se não, eu mesma os matava.

Marilyn Monroe e eles. Bob ou John Kennedy?, entre outros, como Arthur Miller e Joe DiMmaggio. Falemos do mais controverso. A star e o presidente dos E.U.A., que por acaso era casado com a Jacqueline… que veio a ser Onassis (outro casal famoso) e que foi traída com a não menos famosa Maria Callas. Pronto, de enfiada falei de uns poucos.

Grace Kelly e o príncipe Rainer. Ela actriz holywoodesca e ele príncipe do Mónaco. Amor tipo filme. Infelizmente, como foi real, ela morreu num acidente de carro prematuramente e ainda deixou os filhos que conspurcam a memória dos pais com as cenas escandalosas da sua vida privada. Salve-se a Caroline, ao menos…

Barbie e Ken estarão para sempre ligados à minha infância. O casal perfeito. Ela tão bonita e ele tão jeitoso. E não é que já depois de crescida, os cromos da Mattel se lembraram de lhes fazer o divórcio?! E arranjar outro para o lugar do Ken? O surfista australiano Blaine! E que, como o loiro não vendeu, a Barbie vai voltar para o Ken?! É o fim! O que vale é que ela continua linda e loira!

Bonnie e Clyde também são famosos pelo seu amor e… pelos seus assaltos. Ao menos esses juntaram o útil ao agradável. Morreram juntos cravejados de balas da polícia…

Napoleão e Josefina: ele, outro grande imperador. Vivem um grande amor que acaba quando ela se torna estéril, divorciando-se Napoleão e desterrando-se ela para um castelo.

No tempo em que os papas tinham filhos (sim, não sabiam…?) Lucrécia Bórgia é filha ilegítima de Alexandre VI (aliás, ela chega a ser papisa por umas semanas que o pai passa em Nápoles… e agora vem a igreja católica com estas tretas de celibato e afins…) e envolve-se amorosamente com os seus irmãos, entre outros, fazendo inclusivamente com que um irmão mate o outro e estes muitos outros. Se tiver um tempinho dê uma pesquisada na vida desta mulher, que, como verá, é mesmo muito interessante… Aliás já escrevi um artigo aqui sobre a série «Os Bórgia».

 

Porra! Agora que escrevi estas coisas todas chego à seguinte conclusão: mas que grandes confusões! Começa uma pessoa inspirada a discorrer sobre a grandeza do romance e acaba danada! Pensando bem sobre o assunto, realmente, esta coisa do romance não é nada fácil! Mais vale ficarem-se por um ramo de rosas e uns passeios pela beira-mar com a lua cheia!

Por outro lado, já Fernando Pessoa dizia: “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena!”…